A NOSSA PERCEPÇÃO DOS RISCOS

RISK AHEADRecentemente realizei um trabalho que envolveu entrevistas com profissionais liberais, empresários e empreendedores, para avaliar um novo produto e assim determinar sua aderência com relação às necessidades. Embora o tamanho de nossa amostra não nos permita, com rigor, dizer que a mesma representa o grupo, em vários casos, foi possível observar a falta de percepção com relação aos riscos… Em parte por questões culturais mas também devido a programações subliminares sedimentadas no inconsciente do indivíduo. Neste artigo busco trazer visibilidade para essa questão como uma forma de prevenção contra os efeitos nocivos resultantes.

O que é risco?

Antes de avançar, para melhor entendimento, é necessário conceituar o que é “risco”… Risco pode ser entendido como uma possibilidade de ocorrência de algum evento não planejado, incerto, normalmente prejudicial ou danoso à saúde, ao patrimônio, à família ou à sociedade.

O que é necessidade?

Da mesma forma, é preciso definir necessidade… No contexto da abordagem deste artigo, é tudo aquilo que o indivíduo reconhece como útil para o seu desenvolvimento, crescimento, conforto ou sobrevivência. Dessa forma risco pode ser entendido como ameaças com relação à realização das necessidades do indivíduo.

Uma questão de ordem financeira

Do ponto de vista empresarial podemos dizer sem medo de errar que um dos quesitos mais relevantes, presentes em qualquer trabalho de consultoria, são as questões de ordem financeira.

A maior parte dos indicadores que alicerçam as ações de melhoria são financeiros. Podemos facilmente notar que, diante de qualquer problema, as primeiras sinalizações surgem ou são percebidas quando afetam o resultado financeiro.

Portanto, assegurar proteção contra possíveis ameaças ao resultado financeiro constitui prioridade número um.

Cultural

Nos últimos anos temos ouvido muito à respeito de “Educação Financeira”… Diversos programas de rádio e televisão, e na mídia em geral, surgiram e ainda estão presentes de forma incisiva e recorrente, martelando incansavelmente tais questões. Isso não é a toa… Trata-se de um problema real, as gerações mais antigas são ignorantes no assunto, o que pode levar a situação econômica, social e familiar grave.

Diferentes pesquisas mostram que o brasileiro não tem o hábito de planejar. Quanto se trata de aposentadoria, por exemplo, conforme pesquisa realizada pelo SPC (Serviço de Proteção ao Crédito), 66% dos entrevistados não pensam no futuro.

Não pretendo discorrer sobre a questão da “Educação Financeira” especificamente mas é importante ressaltar que o tema compartilha a mesma raiz, cultural e comportamental.

O estudo propriamente dito

O estudo realizado buscou trazer visibilidade para duas questões principais: i) O fato das pessoas estarem vivendo mais e ii) Os riscos agravados pelas mudanças do cenário (globalização, falência da previdência pública, etc).

Dependendo do perfil do entrevistado a preocupação maior recai sobre uma ou outra questão.

Viver muito

Sobre viver mais, ou seja, maior longevidade. Todos os entrevistados demonstraram que percebem e concordam que estamos morrendo mais tarde… De acordo com as estatísticas do IBGE em 1940 a expectativa de vida do brasileiro era em torno dos 40 anos e atualmente chega aos 75 anos.

Praticamente todos acreditam que irão viver além dos 80 anos e a grande maioria conhece alguém, na ativa, que já ultrapassou essa barreira.

Existe consenso quanto a esse fato. Além disso, outras questões concorrentes, como, por exemplo, o perfil ativo do indivíduo mais idoso, não mais representado pela figura do “velhinho na cadeira de balanço”, nos mostram que os tempos mudaram.

Ainda, continuando por essa mesma linha de raciocínio, destaque também para a mudança das famílias em geral, como por exemplo: os filhos se casando mais tarde, os filhos morando com os pais por mais tempo, os pais sustentando os filhos adultos, etc

Morrer cedo

Sobre morrer precocemente, em função de acidente ou doença, o tema se revelou mais contido. Apesar da morte ser uma certeza inevitável é perceptível a forma tímida como o ser humano encara essa possibilidade.

A grande maioria dos entrevistados todavia demonstra grande interesse pela preservação de suas famílias. Todos consideraram importante garantir os estudos dos filhos e os meios mínimos para manutenção do mesmo padrão de vida.

Há também concordância quanto à falência dos serviços públicos, do sistema de previdência e ao agravamento geral deste cenário específico.

Planejamento

Ao abordar a questão planejamento, sobre como sistematizamos nossos esforços para atingir nossos objetivos, ficou evidente uma certa negligência quanto à priorização atribuída. Apesar de haver concordância sobre a importância de determinadas providencias, a priorização geralmente não respeita a ordem posta.

São questões comportamentais que talvez os estudiosos possam explicar melhor…
De acordo com a proposta skinneriana (Skinner, 1966/1969) podemos considerar um comportamento como sendo um processo envolvendo regras e contingências, ou seja, um comportamento é estimulado em função de determinadas regras (culturais, sociais, legais, religiosas, etc) e são modeladas conforme as contingências associadas (consequências).

Tendo isso em mente é fácil perceber que é muito simples nós mesmos nos autossabotarmos, justificando de forma frágil, para nós mesmos, que algo errado (contrário aos nossos objetivos originais) está certo (aderente às nossas necessidades).

Por exemplo: Imagine que você está de dieta e não está comendo doces, neste caso a regra é “não comer doces”… Você passa em frente a uma padaria e visualiza uma torna de morangos deliciosa e decide comê-la… repete para si mesmo(a) que só irá comer um pedacinho e isso não fará mal algum. Pronto! com isso você artificialmente retirou a contingência (ou consequência, engordar por exemplo) para validar ou justificar a sua atitude inconsistente.

Objetivos relativamente simples deixam de ser alcançados por falha de disciplina e planejamento.

Mitigar os riscos

O estudo realizado ainda mostrou que a grande maioria dos entrevistados sequer questiona a necessidade de se ter um seguro de automóvel (risco de roubo e acidentes), mesmo que nunca tenha sofrido qualquer acidente significativo.

Por outro lado, ao avaliar um seguro de vida, vitalício, com acumulação de reserva, aderente às necessidades previamente estudadas e compatível com o orçamento (no caso o produto objeto de nosso estudo) o processo decisório transita irracionalmente na mente de grande parte dos entrevistados, no “padrão torta de morangos”, exemplificado acima.

Conclusão

Nem sempre uma decisão tomada é fiel à real necessidade. O ser humano tem uma capacidade incrível. Uma mente destreinada se torna vulnerável à autossabotagem.

A autossabotagem habita o inconsciente, representa a tentativa da sua mente de manter o status quo e garantir que nenhuma grande mudança ocorrerá.

Assim como já acontece no campo da “Educação Financeira”, é preciso promover a educação também no âmbito da “Gestão de Riscos”, para minimamente garantir condições mais favoráveis para as nossas famílias, sócios, empresas e sociedade em geral, assegurando caminhos mais suaves em situações de contingência.

Pense nisso!